As 7 pragas do agro no Brasil: o novo Egito é aqui
Se o Egito antigo tinha gafanhotos, sangue no Nilo e trevas, o agronegócio brasileiro enfrenta sua própria via-crúcis com juros sufocantes, cortes de verbas e um governo que parece trabalhar contra quem produz alimento
undefined
Na Bíblia, as sete pragas do Egito foram um castigo divino. No Brasil de hoje, as sete pragas do agro são resultado de decisões políticas desastrosas — mas com impacto quase tão trágico quanto.
Troque o faraó por Brasília, e as consequências continuam sendo sentidas por milhões de produtores. Abaixo, a comparação — não tão fictícia assim — entre o que o Egito sofreu e o que o campo brasileiro enfrenta.
1. A água virou sangue — aqui, virou juro
No Egito, o Nilo ficou inservível. No Brasil, o crédito secou. A água vital para o agronegócio chama-se financiamento — e essa virou um veneno com os juros nas alturas. Enquanto o produtor precisa plantar hoje para colher amanhã, o governo faz de tudo para tornar esse amanhã inviável com taxas que drenam qualquer lucro possível.
2. As rãs invadiram tudo — aqui, é a burocracia que salta de todo canto
No Egito, rãs pulavam até na cama do faraó. No Brasil, o produtor é soterrado por uma papelada que só cresce. CAF, CAR, SIF, DAP, QR Code na nota fiscal, cadastro ambiental e uma sopa de letrinhas que parece feita para engolir o tempo de quem deveria estar no campo, não no cartório.
3. Piolhos — hoje, são os impostos que grudam e não largam
Não adianta lavar, reclamar ou raspar. No Egito, era infestação. No Brasil, é carga tributária. O agro paga, paga e paga — mas quando precisa de infraestrutura, seguro ou apoio, ouve que “o país tem outras prioridades”.
4. Moscas — aqui, são os cortes no seguro rural e no Proagro
As moscas no Egito incomodavam, sujaram, tiravam a paz. Aqui, a praga vem em forma de canetaço. O produtor planta com risco climático altíssimo, mas vê o seguro rural e o Proagro levarem tesourada todo ano. “Estamos contingenciando”, dizem em Brasília, enquanto o produtor reza por falta de chuva ou por excesso, veja o Rio Grande do Sul .
5. Peste nos animais — no Brasil, é falta de logística para escoar produção
No Egito, o rebanho morreu. Aqui, o boi engorda, mas não tem estrada. A soja fica no silo esperando um caminhão que atola. A cana apodrece sem escoamento. A peste moderna se chama infraestrutura precária, e ela mata a competitividade do agro brasileiro com a mesma eficiência de um vírus.
6. Úlceras — aqui, são as feridas abertas por promessas não cumpridas
No Egito, eram feridas físicas. No Brasil, são políticas. Todo Plano Safra vem com manchetes grandiosas, mas ao abrir o pacote, o produtor descobre que o crédito não chega, o juro não cabe, o seguro foi cortado e o apoio à comercialização ficou no PowerPoint. Só resta a cicatriz da frustração.
7. Trevas — por aqui, é a cegueira ideológica de quem governa
A última praga mergulhou o Egito em escuridão. O Brasil está na penumbra de uma ideologia que trata o agronegócio como vilão, mesmo sendo o setor que salva a balança comercial, segura o PIB e bota comida no prato do brasileiro. O agro é gigante, mas o governo enxerga como se fosse um problema.
As sete pragas do agro brasileiro não vieram do céu — vieram do Estado. E, diferentemente do Egito antigo, não há Moisés pedindo liberdade ao faraó. Só produtores clamando por respeito, crédito acessível, infraestrutura e previsibilidade. Se o Brasil quiser continuar sendo o celeiro do mundo, é hora de parar de amaldiçoar quem planta, cuida e colhe.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
O Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.