China corta preços de grãos em mais de 50% em janeiro
A preparação da China para a pretensa nova era comercial, com a posse de Donald Trump nos Estados Unidos, já está afetando mais os exportadores de soja do Brasil que os próprios estadunidenses.
Segundo a BIMCO (Baltic and International Maritime Council), as importações de grãos do gigante asiático caíram 51% em janeiro para o menor nível desde 2018.
A redução afetou significativamente o setor de transporte de granéis sólidos, especialmente os navios Panamax, que transportam 83% da carga de grãos da China.
O Índice Panamax da Bolsa Báltica caiu 41% em comparação ao ano passado e, nesta semana, atingiu seu nível mais baixo desde maio de 2020.
A análise da BIMCO mostra que os impactos variam entre os principais exportadores.
O Brasil, que representa 47% dos embarques, registrou uma queda de 29%, enquanto as cargas dos Estados Unidos, que correspondem a 22% das exportações, diminuíram 57%.
A BIMCO também observa que, apesar da redução nos volumes, a preferência por cargas brasileiras oferece certo respiro, ainda que provisório, ao setor de transporte marítimo de granéis sólidos.
Isso porque a rota Brasil-China é cerca de 25% mais longa do que a rota EUA-China sob condiões normais do Canal do Panamá.
Caso pensado
O gerente de Análise de Transporte da BIMCO, Filipe Gouveia, atribui essa queda a vários fatores, incluindo margens de esmagamento baixas e altos estoques, resultado de importações substanciais no início do ano.
De fato, o gigante asiático acelerou as importações nas semanas finais de 2024, antes da posse de Trump, para frear agora.
A análise também destaca o fortalecimento da produção doméstica da China, com safras recordes em 2024, reduzindo a necessidade de importar milho e trigo.
Desde 2018, o setor agrícola chinês cresceu consideravelmente, com aumento constante na produção de trigo, milho e soja.
Em 2024, os volumes de colheita aumentaram 2%, enquanto o consumo subiu apenas 1%.
Perspectivas para 2025
A BIMCO prevê uma possível recuperação nos embarques de grãos à medida que os estoques de soja diminuam e os preços baixos incentivem novas compras.
No entanto, a entidade alerta que as importações de trigo e milho podem continuar baixas, devido à forte oferta interna.
Se a demanda doméstica da China não aumentar significativamente em 2025, o total de embarques de grãos para o país pode ficar abaixo dos níveis de 2024.
“No geral, esperamos que os embarques de grãos para a China se recuperem no médio prazo, à medida que os estoques de soja diminuam e os preços baixos incentivam compras”, afirma Gouveia.
Protecionismo chinês
Em cerca de um mês, a China anunciou três medidas com impacto na desaceleração das importações.
No final de dezembro, o Ministério do Comércio da China anunciou uma investigação abrangente sobre as importações de carne bovina, afetando todos os países exportadores, incluindo o Brasil, um dos maiores fornecedores da proteína animal.
A China, maior importadora de carne bovina do mundo, enfrenta um mercado com excesso de oferta, o que resultou em uma queda acentuada nos preços domésticos, alcançando mínimas de vários anos.
O país também anunciou a suspensão das importações de carnes de diversos países, segundo comunicados divulgados nos últimos dias.
Além disso, a China bloqueou as exportações de soja de unidades de cinco das maiores tradings com operações no Brasil.
Para o analista, os embarques podem permanecer fracos diante de uma oferta doméstica mais forte.
“A menos que a demanda interna da China melhore significativamente ao longo de 2025, os embarques de grãos para o país podem ficar aquém dos níveis de 2024”, finalizou.