Internet ainda enfrenta desafios de qualidade no campo brasileiro, aponta relatório
Em lares rurais, o acesso permanece limitado e enfrenta desafios estruturais, com apenas 74% das residências conectadas
O relatório TIC Domicílios 2024, publicado nesta quinta-feira (31), trouxe uma análise sobre o acesso à internet nos lares brasileiros, destacando avanços nas últimas duas décadas.
De acordo com o estudo, conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), o cenário de conectividade no país evoluiu de forma expressiva: em 2005, apenas 13% dos domicílios urbanos tinham acesso à internet, enquanto, em 2024, esse número atingiu 85%. No entanto, para os lares rurais, o acesso permanece limitado e enfrenta desafios estruturais, com apenas 74% das residências conectadas, evidenciando desigualdades que ainda precisam ser superadas.
A diferença na conectividade entre áreas urbanas e rurais reflete, em grande parte, a carência de infraestrutura e os altos custos para instalação de redes de alta velocidade em áreas mais afastadas dos centros urbanos.
Falta de conexão
Embora o uso de tecnologias sem fio, como a rede móvel, tenha contribuído para expandir o acesso à internet nas áreas rurais, a qualidade dessa conexão muitas vezes deixa a desejar. Apenas 22% da população possui uma conectividade considerada significativa, que leva em conta velocidade, estabilidade e custo-benefício, de acordo com o Cetic.br.
No campo, essa realidade é ainda mais desafiadora, prejudicando a participação plena dos moradores em atividades essenciais, como educação a distância, acesso a serviços públicos online e inovação no setor agropecuário.
O impacto da conectividade de baixa qualidade é preocupante para as famílias rurais que dependem da internet para realizar tarefas diárias e aprimorar suas atividades econômicas. No setor agropecuário, por exemplo, o uso de tecnologias digitais para monitoramento de cultivos, gestão de produção e comércio eletrônico está se tornando cada vez mais importante.
“A ampliação da internet no campo é essencial para inclusão digital e o desenvolvimento econômico do país, mas o Brasil precisa investir em infraestrutura e políticas específicas para superar os desafios de conectividade rural,” afirma Ana Menezes, coordenadora da pesquisa.
A falta de uma conexão de qualidade também limita a oportunidade de aprimoramento profissional dos trabalhadores rurais e dificulta o acesso a informações vitais sobre clima e preços de mercado, que impactam diretamente na produtividade e na rentabilidade das propriedades.
Acesso pelo celular
Além disso, a pesquisa TIC Domicílios 2024 revelou que o acesso exclusivo por telefone celular é mais comum em áreas rurais, onde a presença de internet por fibra óptica ou outros serviços de banda larga fixa é rara.
Esse tipo de acesso tem suas limitações, pois, geralmente, oferece menor velocidade e estabilidade, além de tornar a navegação mais cara quando comparada ao acesso por Wi-Fi ou banda larga fixa.
Nas classes socioeconômicas mais baixas, que predominam nas áreas rurais, o acesso por celular é muitas vezes o único disponível, o que reforça as barreiras para uma experiência digital plena e produtiva.
Outro ponto de destaque da pesquisa foi o uso de internet em dispositivos além do celular. Enquanto nas cidades o uso de televisores para acesso à internet está se popularizando, nas áreas rurais essa prática ainda é limitada pela ausência de conexão estável e de aparelhos compatíveis. Esse quadro ilustra a necessidade de uma política pública direcionada que contemple o acesso digital rural com iniciativas que possam minimizar a desigualdade e fomentar a inclusão digital para populações mais distantes.
Capacitação
O TIC Domicílios também apresentou dados sobre habilidades digitais, mostrando que pessoas em áreas urbanas e com maior escolaridade tendem a utilizar a internet de forma mais eficaz, verificando a veracidade das informações e configurando a privacidade de seus dados.
No campo, onde a escolaridade é, em média, menor, essas habilidades ainda são pouco difundidas, o que torna essas populações mais vulneráveis a golpes e desinformação.