Com cotações que aumentaram quase 150% em apenas um ano, o valor de terras propícias ao cultivo ou à pecuária no país atingirá um valor total próximo de R$ 6 trilhões, segundo estimativas de especialistas.
O mercado de terras agrícolas no Brasil tem experimentado uma valorização impressionante nos últimos tempos, com cotações que aumentaram quase 150% em apenas um ano, de acordo com dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A observação é especialmente evidente nas regiões Norte e Nordeste, onde as áreas agrícolas são mais acessíveis.
A gestora 051 Capital, responsável por três Fiagros imobiliários, revelou em um evento em Ribeirão Preto que a vastidão de terras propícias ao cultivo ou à pecuária no país atingirá um valor total próximo de R$ 6 trilhões, segundo estimativas de especialistas. Esse valor tem crescido rapidamente, refletindo os rendimentos positivos de fundos de investimentos focados em ativos agrícolas.
Um exemplo notável é a Fazenda Xingu, no Maranhão, adquirida pela empresa por cerca de R$ 150 milhões no primeiro semestre de 2022. Em menos de um ano, a propriedade valorizou quase 150%, atingindo mais de R$ 370 milhões, de acordo com o relatório do Fiagro FZDA11.
“Esse valor ainda não se traduz em resultado para o investidor, porque temos um contrato de locação de 10 anos com a SLC. Não vamos vender a terra antes deste período. Mas dá uma ideia de como existem boas oportunidades neste mercado”, afirma Marconi Silva, líder de Operações Agro da 051.
Embora o mercado mostre um cenário otimista, a 051 Capital antecipou uma possível desaceleração nos preços das terras ao longo de 2023, relacionada à queda nas cotações das principais commodities agrícolas. A gestora destaca que essa desaceleração pode criar oportunidades para investidores adquirirem terras a preços descontados.
“Este contexto de redução dos valores de commodities pode trazer problemas de caixa para alguns produtores, especialmente os que já estão bastante alavancados, o que pode gerar boas oportunidades de compras de terras a preços descontados frente aos valores de mercado”, afirmou.
A líder de Operações ainda afirma que a estratégia da empresa é buscar bons ativos, garantir descontos atraentes e atrair investidores. Ele destaca que as melhores oportunidades continuarão vindas da região Matopiba, que engloba municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
“A nossa estratégia é procurar bons ativos, conseguir bons descontos e atrair investidores. Quando começamos, sentimos que havia um bom apetite por este tipo de produto. E ainda há espaço para mais”, afirma Silva.
O Atlas do Mercado de Terras, lançado pelo Incra em novembro, confirma essa tendência, diminuindo que áreas entre Maranhão e Piauí podem valer menos de R$ 1.000 por hectare, enquanto terras mais próximas do litoral e no interior da Bahia podem variar entre R$ 20 mil e R$ 30 mil por hectare.
A S&P Global, em um estudo apresentado no mesmo evento, comparou o retorno das terras em Balsas, Maranhão, com investimentos mais tradicionais, mostrando que as terras tiveram um retorno de 523% em 15 anos, superando os retornos de títulos públicos e do Ibovespa.
Embora haja um potencial significativo de expansão para atividades agrícolas, os especialistas apontam para a recuperação de pastagens degradadas como um caminho sustentável. O Instituto de pesquisa estima que cerca de 33 milhões de hectares de pastagens de boa qualidade podem ser recuperados, contribuindo para o aumento da produtividade agropecuária brasileira.
“Esta é a parte nobre de pastagens que poderiam ser recuperadas. Se a área de soja no Brasil crescer em média 4% ao ano, em linha com o histórico recente, estes 33 milhões de hectares seriam ocupados em 14 anos”, diz Claudino, consultor sênior da S&P.
O governo federal planeja lançar um programa de recuperação de pastagens degradadas, com o objetivo de recuperar até 40 milhões de hectares. No entanto, a 051 Capital vê atualmente as pastagens como oportunidades para o médio e longo prazo, concentrando-se em obter bons resultados nas fazendas produtivas já existentes.
“Estamos conseguindo bons resultados em fazendas produtivas já. Olhamos para as pastagens como oportunidades para médio e longo prazo”, afirma Marconi Silva.
A rápida valorização das terras agrícolas no Brasil, destacada pela gestora 051 Capital, reflete um cenário dinâmico e promissor para investidores no setor. Embora a expectativa de desaceleração nos preços em 2023 esteja presente, a busca por ativos sólidos e descontos atrativos permanece como estratégia fundamental.
A região Matopiba continua sendo uma fonte de oportunidades, alinhando-se aos dados do Atlas do Mercado de Terras e às projeções de especialistas. Enquanto o mercado de terras demonstra resiliência, o potencial de recuperação de pastagens degradadas, embora seja considerado a médio e longo prazo pela 051 Capital, representa uma perspectiva sustentável para o crescimento contínuo da produtividade agropecuária brasileira.